domingo, 16 de janeiro de 2011

Atividade física e a relação com a qualidade de vida, de pessoas com seqüelas de acidente vascular cerebral isquêmico (AVCI)

Alberto Martins da Costa¹
Edison Duarte²


Resumo
[1] Costa, A.M., Duarte, E. Atividade física e a relação com
a  qualidade de vida, de pessoas  com seqüelas de acidente
vascular cerebral isquêmico (AVCI). Rev. Bras. Ciên. e Mov.
10 (1): 47-54, 2002.
O acidente vascular cerebral (AVC),continua sendo  uma das grandes preocupações da atualidade, tendo em vista ser a terceira maior causa de morte por doença no mundo, depois das doenças cardíacas e do câncer. Neste estudo, buscamos demonstrar que um  programa de atividade física e recreativa regular  pode propiciar ao indivíduo que sofreu um AVC  um novo sentido para sua vida. O trabalho envolveu 18 pessoas com seqüelas de acidente vascular cerebral isquêmico (AVCI), nas quais realizamos uma avaliação da saúde e qualidade geral de vida, através do questionário “SF 36”. Posteriormente, os mesmos foram submetidos a um programa de atividade física regular,  durante seis meses. Após o término do programa, foi reaplicado o mesmo instrumento  e comparados estatisticamente os dados. De acordo com os resultados obtidos, pudemos verificar uma significativa melhoria na qualidade geral de vida dos participantes. Assim, podemos afirmar que a atividade física regular pode não só trazer benefícios fisiológicos no sentido de prevenir uma nova recidiva de acidente vascular cerebral, como também influenciar de forma benéfica no seu aspecto emocional, proporcionando-lhes maior autoconfiança, autonomia e independência.
PALAVRAS-CHAVE: atividade física, acidente vascular cerebral, qualidade de vida.

Introdução
Os acidentes vasculares cerebrais (AVC) são, hoje, uma das causas mais comuns de disfunção neurológica que ocorre na população adulta. De acordo com BA (1987) esta patologia é  responsável por aproximadamente 25% dos óbitos nos países desenvolvidos e, também, responsável por grande parte das incapacidades físicas que atingem os  idosos. Segundo LOCKETTE & KEYES (1994), por ano, nos Estados Unidos, cerca de três milhões de pessoas sobrevivem a um acidente vascular cerebral e, aproximadamente, 500.000 pessoas apresentam um  AVC novo ou uma recidiva. Destas, 150.000 pessoas, por ano, chegarão a óbito, tornando-se, assim, a terceira maior causa de morte por doença na América, depois das doenças cardíacas e do câncer. Tão grave quanto a incidência anual e o índice de mortalidade é,  também, grande  a probabilidade de um acidente vascular recidivo, o que é muito comum em quase todas as formas de doença vascular cerebral, e cada recidiva constitui um alto risco de mortalidade ou incapacidade e dependência permanente. 
O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é considerado uma doença primária do idoso, contudo, aparece também nas estatísticas como a terceira causa de morte entre as pessoas de meia idade.  Ainda segundo LOCKETTE & KEYES (1994), o índice de mortalidade por AVC diminuiu significativamente a partir de 1972, tendo em vista a ênfase dada aos esforços na prevenção e controle dos fatores de risco, especialmente na hipertensão arterial.
No Brasil, estudos realizados no estado de São Paulo por Lotufo & Lolio, apud OLIVEIRA (1996) apontam também uma diminuição da mortalidade por doenças cérebro-vasculares, apesar de continuar  sendo uma das principais causas de morte em nosso país,  considerada uma das taxas mais elevadas do mundo.
Os indivíduos portadores de seqüelas de AVC seguem, normalmente, uma rotina de intervenção e tratamento de acordo com o tipo e causa do acidente vascular cerebral. Esta rotina varia desde a intervenção cirúrgica ao tratamento clínico, passando, posteriormente, para o tratamento fisioterápico. Este consiste, na medida do possível, em restabelecer funções e/ou minimizar as seqüelas deixadas.  No entanto, o quadro tende, com o tempo, a se estabilizar e o paciente  apresenta, na  maioria das vezes, uma hemiparesia ou uma hemiplegia, dependendo não somente da área  cerebral afetada,  como também da extensão deste acometimento. Isto faz com que  a pessoa torne-se um eterno paciente da fisioterapia, desenvolvendo, na maioria das vezes, uma atividade relativa. Outra situação que ocorre habitualmente, e que é  ainda  pior, é quando o paciente retorna para casa e  permanece no sedentarismo. Este sedentarismo, talvez, tenha sido uma das causas  provocadoras do seu acidente vascular e agora poderá talvez ser a causa de um novo acidente.
As pessoas com seqüelas de acidente vascular cerebral estão, na sua maioria, alijadas da prática da atividade física regular para a manutenção da sua saúde ou da sua condição orgânica,  o que proporciona melhor  qualidade de vida. O que lhes é oferecido como opção de atividade, na realidade, se resume à prática de exercícios de manutenção no âmbito da fisioterapia, o que, muitas vezes, se torna monótono e enfadonho, uma vez que a deficiência já está estabelecida e muito pouco há por se fazer, a não ser evitar o agravamento ou o surgimento de deficiências secundárias.
Os programas de atividade física regular desenvolvidos no Brasil, como também em grande parte do mundo, têm, como objetivo principal, quase sempre, o caráter preventivo, ou seja, atividades que evitem a ocorrência de um acidente vascular cerebral. Diante disto, além das atividades de reabilitação, o que fazer com os indivíduos que já desenvolveram um AVC? PAFFENBARGER & OLSEN (1996) afirmam que  “muito poucos estudos foram desenvolvidos em relação ao acidente vascular cerebral e à atividade física”. No Brasil, não é conhecido nenhum programa de atividade física e/ou esportiva para pessoas com seqüelas de AVC, egressos de programas de reabilitação. Não são conhecidos, também, estudos que tenham sido desenvolvidos com o objetivo de verificar as mudanças de comportamento emocional desses indivíduos, após a realização de um programa de atividade física regular, com ênfase na melhoria da sua qualidade de vida. Desta forma, temos como objetivo, neste estudo, verificar as possíveis alterações nos parâmetros de  qualidade geral de vida desses indivíduos, após a realização de um programa regular de atividade física e recreativa.


¹ Universidade Federal de Uberlândia
² Universidade de Campinas
veja aqui o artigo completo:

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